Governo sanciona lei que devolve imposto cobrado na conta de luz

Os consumidores de todo o país terão desconto na tarifa de energia elétrica para atender o que determina a lei 14.385, publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (28). A medida atende a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que julgou inconstitucional a cobrança de PIS/Cofins na luz. Aprovado pela Câmara no início deste mês, o projeto de lei com a possibilidade de devolução foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) sem nenhum veto.

A medida altera legislação anterior de funcionamento da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para permitir que a agência reguladora devolva os valores. A devolução deverá vir em reajustes menores nas contas de energia.

A medida já teve efeitos em alguns reajustes. Este é o caso da Enel, que atende 7,6 milhões de unidades consumidoras em São Paulo e teve o aumento de 2022 aprovado pela agência nesta terça. Segundo detalhamento da Aneel, no caso do cálculo das tarifas da Enel, que terá reajuste médio de 12,04% a partir de segunda-feira (4), a devolução dos créditos de PIS/Cofins foi responsável por -8,70% na composição do índice de reajuste médio da operadora de luz. Caso contrário, o aumento seria maior, mas não foi informado o percentual. Dados divulgados pela Câmara e pelo Senado dão conta de que, dos R$ 60,3 bilhões em créditos a serem devolvidos pela União às distribuidoras, R$ 47,6 bilhões ainda não foram restituídos aos consumidores.

O restante entrou em revisões tarifárias desde 2020, que teriam resultado em redução média de 5% até então. A mesma regra de redução foi utilizada para aprovar o aumento tarifário no Tocantins, pela Energisa, cuja redução com base na devolução de PIS/Cofins é de 9,76 % no índice de reajuste tarifário da distribuidora, que atende a 637 mil unidades consumidoras.

Em São Paulo, além do desconto permitido pela nova legislação, a Aneel considerou ainda a lei que limita a cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em 18% no estado, que passará a valer também sobre a luz. “Também impactará o preço final a ser pago pelo consumidor a lei complementar 194, sancionada na última quinta-feira (23/6), que reduz a alíquota do ICMS na energia para 18%.

A aplicação dessa lei que depende dos estados contribuirá para atenuar o preço final da energia dos consumidores da Enel-SP em aproximadamente -10,4%”, diz a agência. Outra medidas foram a proposta de regulamentação da “CDE Modicidade Eletrobras”, sobre a inclusão de portes na conta doe luz com a privatização da Eletrobras, que contribuiu com -2,84% na redução de impactos no reajuste, além do empréstimo setorial da conta escassez hídrica (-2,82%) e a aprovação de pagamentos provenientes do repasse da potência contratada de Itaipu (-1,26%). Mesmo assim, os consumidores residenciais de São Paulo irão pagar, em média, 10,01% a mais na luz. A média máxima de reajuste no estado será de 18,03% para consumidores de alta tensão.

O texto aprovada na Câmara dos Deputados em 7 de junho foi proposto pelo Senado, para atender as distribuidoras que entraram com a ação e ganharam o caso no STF. Apenas duas distribuidoras não ingressaram com processos. Na Câmara, o projeto tramitou anexo a outro, que também era do Senado, mas iniciado em 2022.

Créditos por economia foram devolvidos em janeiro A conta de luz pressiona a inflação das famílias desde 2020, com a pandemia de coronavírus e crise hídrica. Com baixa nos reservatórios, usinas térmicas acionadas e consumidores em casa, a tarifa explodiu, elevando reclamações e inadimplência. Como medida contra a crise hídrica, o governo federal lançou, em setembro de 2021, programa que dava desconto na fatura a quem economizasse entre 10% e 20% na luz. O desconto foi dado em janeiro, com base na conta de dezembro, segundo a União. Não foi informando, no entanto, quantos consumidores foram beneficiados.

Petrobras aumenta gasolina em 5,2% e diesel em 14,2%

A Petrobras anunciou nesta sexta-feira (17) que vai reajustar o preço da gasolina e do diesel vendidos às distribuidoras, já a partir deste sábado (18).

O preço médio de venda de gasolina da estatal para as distribuidoras passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro. Para o diesel, preço médio de venda passará de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro. O diesel não era reajustado desde 10 de maio. Já a última alta no preço da gasolina havia sido em 11 de março.

O Conselho de Administração da Petrobras aprovou o reajuste em reunião de emergência, na quinta-feira (16) (veja aqui). O novo aumento foi alvo de duras críticas do presidente Jair Bolsonaro, que chegou a afirmar que “A Petrobrás pode mergulhar o Brasil num caos”. Bolsonaro também mostrou preocupação com a possibilidade de uma greve dos caminhoneiros.

Desemprego recua para 10,5% e atinge 11,3 milhões no Brasil

A taxa de desemprego no Brasil recuou para 10,5% no trimestre encerrado em abril deste ano, informou nesta terça-feira (31) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

Nos três meses imediatamente anteriores (novembro a janeiro), o indicador estava em 11,2%. 

O novo resultado veio abaixo das estimativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam taxa de 10,9%. 

“Estamos diante da manutenção do processo de retração da taxa de desocupação, que vem ocorrendo desde o trimestre encerrado em julho de 2021, em função, principalmente, do avanço da população ocupada nos últimos trimestres”, disse Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE. 

O número de desempregados recuou para 11,3 milhões no trimestre até abril, apontou o IBGE. O contingente estava em 12 milhões nos três meses imediatamente anteriores. 

Pelas estatísticas oficiais, a população desempregada reúne quem está sem trabalho e segue à procura de novas vagas. Quem não tem emprego e não está buscando oportunidades não entra no cálculo. 

Os dados divulgados pelo IBGE integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). 

O levantamento retrata tanto o mercado de trabalho formal quanto o informal. Ou seja, são avaliados desde empregos com carteira assinada e CNPJ até os populares bicos. 

O contingente de pessoas ocupadas com algum tipo de trabalho foi estimado em aproximadamente 96,5 milhões, recorde da série histótica, iniciada em 2012. Houve alta de 1,1% ante o trimestre anterior (1,1 milhão de pessoas a mais). 

Após o baque gerado pela pandemia, o mercado de trabalho tenta se recuperar no Brasil. Segundo a Pnad, o número de desocupados chegou a romper a faixa dos 15 milhões no começo de 2021, sob efeito da crise sanitária. 

Com a derrubada de restrições e a reabertura da economia, houve um processo de retorno ao trabalho, e o desemprego passou a ceder ao longo do ano passado. 

A reabertura de vagas, contudo, foi marcada por uma sequência de quedas na renda média dos trabalhadores. 

Disparada da inflação, volta de informais ao mercado e criação de empregos com salários mais baixos são explicações associadas ao rendimento mais enxuto. 

No trimestre até abril, a renda média do trabalho da população foi de R$ 2.569. Até houve relativa estabilidade frente ao trimestre imediatamente anterior (R$ 2.566), mas o indicador segue fragilizado se comparado a outros períodos da série histórica, iniciada em 2012. 

Na comparação anual, com o trimestre encerrado em abril de 2021 (R$ 2.790), o rendimento encolheu 7,9%.

Nova tributação pode aumentar em 60% preço em apps de compra internacional

O governo federal prepara uma uma medida provisória para taxar produtos de baixo valor que são vendidos em apps de compra internacional, como AliExpress, Shopee, Wish, e também impactaria o Mercado Livre (que tem CNPJ no Brasil). A ação é uma resposta a uma demanda de empresários brasileiros, liderada por Luciano Hang, dono da rede Havan, que consideram que pagam mais impostos que estas plataformas.

A nova tributação seria uma mudança na atual legislação que taxa em alíquota única de 60% apenas os produtos que passam dos 50 dólares (aproximadamente 250 reais). Nos cálculos feitos pelo Instituto Brasileiro de Gestão e Planejamento Tributário (IBGPT), com exclusividade para EXAME, esta mesma regra valeria para produtos de qualquer valor. Ou seja, toda mercadoria comprada nestas plataformas teria um imposto de 60%.

Atualmente, as plataformas de marketplace internacionais assemelham-se às lojas duty free, também conhecidas como free shops, presentes nos aeroportos internacionais. São um ambiente onde o consumidor final pode fazer compras sem ser tributado, dentro de um limite estabelecido pelo governo.

“Comprar produtos do exterior por aplicativo deve se tornar mais burocrático, caro e demorado, retraindo a relação de consumo do brasileiro. E talvez o custo-benefício para o serviço alfandegário e do fisco nem valha a pena, com maior volume de produtos de pequeno valor para classificar, controlar e fiscalizar”, avalia Douglas Herrero, sócio-diretor do IBGPT.

Havia uma expectativa de que a Receita Federal implementasse a nova regra até o fim de abril, o que ainda não ocorreu. Mesmo que seja publicada agora em maio, deve haver um tempo de transição – cerca de 90 dias – para que o fisco e as plataformas possam se adaptar à nova taxação. Oficialmente, tanto do Ministério da Economia quanto a Receita Federal não comentam sobre o assunto.

Bahia tem mais beneficiários do Auxílio Brasil do que empregados com carteira assinada

A Bahia é um dos 12 estados brasileiros que tem mais beneficiários do programa Auxílio Brasil do que empregados com carteira assinada. Os dados foram publicados pelo site Poder 360 com base em informações obtidas pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregado (Caged) e do Ministério da Cidadania do mês de fevereiro de 2022.

Segundo a pesquisa, a Bahia em fevereiro tinha 1.821.479 trabalhadores da carteira assinada, enquanto de beneficiários do Auxílio Brasil o número é de 2.211.315. Ainda segundo o levantamento, a Bahia é o segundo estado com maior número de beneficiários perdendo apenas para São Paulo, que tem 2.225.382.

O levantamento considera os 41 milhões de trabalhadores formais que têm a carteira de trabalho assinada. Há, no entanto, um contingente grande de trabalhadores informais e/ou sem carteira assinada. O estudo mostra que todos os Estados onde o número de beneficiários do Auxílio Brasil supera o de empregados com carteira estão nas regiões Norte e Nordeste.

Salário mínimo ideal deveria ser de R$ 6.394,76 em março, calcula Dieese

O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) calcula que o valor do salário mínimo ideal para suprir todas as despesas de um trabalhador e de sua família no Brasil deveria ser de R$ 6.394,76, o que equivale a mais de cinco vezes ao atual de R$ 1.212,00. A estimativa do departamento se refere ao mês de março. Em fevereiro, o valor ficou em R$ 6.012,18. 

De acordo com o Dieese, esse seria o pagamento mínimo para sustentar uma família de quatro pessoas no mês de março no Brasil, considerando gastos com moradia, transporte, alimentação, saúde, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência. 

AUMENTO DOS PRODUTOS BÁSICOS 

Em março, todas as capitais enfrentaram o aumento para os alimentos na comparação com o mês anterior. A maior alta ocorreu no Rio de Janeiro, com 7,65%. Já a menor, em Salvador, com 1,46%. Quanto ao custo da cesta básica, São Paulo foi a capital com o maior preço: R$ 761,19. 

Comparando março de 2022 com o mesmo mês de 2021, o Dieese apontou alta nos valores das cestas em todas as capitais, sendo Aracaju a que teve a menor variação, com 11,99%. Campo Grande apresentou a maior: 29,44%. 

HORAS TRABALHADAS 

O estudo do Dieese também aferiu a média de horas que deveriam ser trabalhadas para que o trabalhador que ganha o salário mínimo atual adquirir os produtos da cesta básica. 

Pelos cálculos, em março, seriam necessárias 119 horas e 11 minutos, praticamente meio mês, Em fevereiro, a estimativa era de 114 horas e 11 minutos. 

Ao descontar do salário mínimo os 7,5% da Previdência Social, foi verificado também que o trabalhador deveria usar 58,57% do seu ganho para adquirir os alimentos da cesta.

Preço do gás de cozinha na Bahia tem quarto reajuste no ano; valor deve ultrapassar R$ 130

O preço do botijão de gás teve novo reajuste na Bahia, conforme divulgado pela Acelen, empresa que administra a Refinaria de Mataripe, nesta quinta-feira (31). O aumento entra em vigor na sexta (1°) e será entre R$ 5 e R$ 7.

O primeiro reajuste deste ano aconteceu no dia 3 de fevereiro, quando o valor do produto chegou até R$ 120, de acordo com Sindicato dos Revendedores de Gás. Com o novo aumento, o valor médio do botijão deve ser R$ 132.

A empresa que administra a refinaria disse que os reajustes acontecem por causa da cotação do petróleo, da variação do dólar, além do custo logístico para a entrega do produto.

Em setembro de 2020, um botijão custava em média, R$ 68 no estado. Em 2021, o valor chegou a R$ 105.

75% dos brasileiros responsabilizam governo Bolsonaro por alta da inflação

Apesar de o governo ter reforçado o discurso de que a inflação é consequência de crises globais e ações de terceiros, como governadores que impuseram o distanciamento social contra a Covid-19, é grande a parcela de brasileiros que atribuem à gestão de Jair Bolsonaro responsabilidade pela alta de preços.
 

O descontentamento foi identificado pelo Datafolha. Tanto numa pesquisa realizada em setembro do ano passado quanto no levantamento mais recente, em março, 75% apontam que o governo Bolsonaro tem responsabilidade pela inflação.
 

A pesquisa Datafolha foi realizada na terça (22) e na quarta-feira (23) com 2.556 eleitores em 181 cidades de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
 

A comparação das duas pesquisas mostra que caiu o número de brasileiros que atribuem muita responsabilidade ao governo. Essa parcela foi de 41% para 36%. Em contrapartida, aumentou, de 34% para 39%, a fatia que atribui um pouco de responsabilidade. Houve uma ligeira queda, de 23% para 21%, no contingente que não via nenhuma responsabilidade.
 

Entre eleitores que declaram avaliar votar em candidatos da chamada terceira via estão os mais críticos ao governo Bolsonaro. Segundo o levantamento, 87% dos que declaram intenção de votar em Ciro Gomes (PDT) consideram que o governo tem responsabilidade pela alta da inflação, sendo que 50% dizem que a gestão bolsonarista tem muita responsabilidade.
 

Entre os que declaram intenção de votar em Sergio Moro (Podemos), 82% têm a avaliação de que o governo tem responsabilidade, sendo que 42% consideram ele tem muita responsabilidade. No caso de eleitores de André Janones (Avante), 80% dizem que o governo tem responsabilidade, e a metade avalia como um pouco.
 

Mesmo quem está na base de apoio de Bolsonaro acredita que o governo tem responsabilidade pela inflação, nem que seja um pouco. Essa percepção é compartilhada até por eleitores declarados. O levantamento mostra que 75% deles acreditam que o governo tem responsabilidade pelo descontrole dos preços.
 

Essa avaliação também é feita por 72% dos evangélicos, 75% dos moradores do Centro-Oeste, região que concentra o agronegócio, e 79% dos moradores da região Sul, que votaram em peso para eleger Bolsonaro.
 

A inflação começou a subir durante a pandemia, mas disparou mesmo no ano passado. Em 2019, por exemplo, o IPCA, que mede a inflação oficial, fechou ano com alta de 4,31%. Em 2020, passou para 4,52%. Mas fechou 2021 acumulando alta de 10,06%.
 

Uma confluência de fatores críticos eleva os preços. Secas no Sul, chuvas torrenciais no Sudeste, ruptura da cadeia global de fornecimento de peças industriais, aumento do frete marítimo e disputa por contêineres. Recentemente, o cenário piorou com a invasão da Ucrânia pela Rússia e uma escalada de sanções de países ocidentais contra o governo de Vladimir Putin.
 

Dois itens essenciais estão entre os mais afetados por esse múltiplo desarranjo e encarem mês após mês. De um lado, os alimentos, como o trigo do pãozinho, hortaliças, frutas. De outro, a energia, incluindo gasolina, diesel e gás de cozinha. Como ambos são básicos na economia, eles não apenas puxam o custo de vida para cima como também ajudam a disseminar a inflação por outros setores.
 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, não perde a oportunidade para falar em público que a alta de preços é um fenômeno global e que o Brasil uma vítima de circunstâncias que estão acima do poder de intervenção do Estado. No entanto, outros segmentos do governo, incluindo o próprio Bolsonaro, tentam demonstrar diligência para aliviar os baques inflacionários.
 

Segundo economistas, as intervenções açodadas podem ter o efeito inverso, tornar os mercados disfuncionais e elevar os preços, mas o governo tem insistido, corroborando a visão popular de que ele tem responsabilidade em calibrar a inflação.
 

Em 2020, no repique do preço do arroz, chegou a dizer que os ministérios da Economia e da Agricultura tomariam providências para baixar o preço e ainda pediu aos supermercados para que reduzissem as margens de lucro com grão.
 

Neste início de ano, a pressão altista segue firme. Na sexta-feira (25), foi divulgado o IPCA-15 de março, prévia da inflação mensal. O indicador teve alta de 0,95%, maior taxa para o período desde 2015 (1,24%) e acima das projeções.
 

Com esse dado, o IPCA-15 acumulou inflação de 10,79% em 12 meses até março. A inflação acumulada em 12 meses está acima de 10% desde setembro de 2021.
 

Desde março de 2021, o Banco Central vem elevando a Selic, taxa básica de juros, para tentar arrefecer a escalada dos preços. Na reunião mais recente, em fevereiro, ela foi de 9,25% para 10,75%, voltando ao terreno dos dois dígitos, o que não ocorria havia cinco anos.

Brasileiros superendividados: ‘Vendi a lavadora para pagar aluguel, agora devo parcelas da máquina’

“Então, gente, estamos precisando de ajuda. O mês passado pagamos alguns exames da Maria, e as coisas saíram do controle… Não podemos pagar parte do aluguel, nem a luz e nem a água. Estamos pedindo ajuda para pagar contas atrasadas.”

Jaqueline Alves, de 31 anos, moradora de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, é uma dos milhões de brasileiros que começaram o ano muito endividados e, por isso, ela fez esse apelo em uma rede social.

“As contas desse mês, provavelmente vamos deixar atrasar, mas o importante é pagar as mais antigas para não ficarmos sem teto, água e luz… O amanhã, Deus proverá!”, disse ela.

Jaqueline é casada e mãe de três — dois meninos de 15 e 7 anos e uma menina de 4 anos, que tem uma doença rara.

A única renda da família, que tem gastos extraordinários frequentes com a saúde da caçula, é uma aposentadoria de um salário mínimo (R$ 1.212 atualmente) que o marido de Jaqueline recebe por também ter uma deficiência.

Parte fica para o banco assim que cai na conta, para pagar parcelas de empréstimos passados, que têm a pensão como garantia. Sobram pouco mais de R$ 700 para sustentar a família no mês.

Jaqueline tem faturas de vários cartões de crédito em atraso, além das contas básicas de casa, somando dívidas que já passam de R$ 20 mil. “Os cartões acabam virando um meio de a gente pagar as contas”, diz.

“A gente precisa às vezes comprar um remédio, compra no cartão, aí chega a fatura, nem sempre a gente consegue pagar o mínimo, e vira uma bola de neve. A gente vai empurrando, pagamos a mais antigas e deixamos as mais novas para depois. Mas nunca conseguimos sanar as dívidas por completo.”

Desde o nascimento da filha, o casal depende da ajuda de conhecidos, amigos e familiares todo mês.

“Mas, agora, com essa crise que está aí, não estamos conseguindo mais arrecadar os valores para manter as nossas contas em dia. Até a solidariedade chega um ponto que não chega a tempo. Porque não é que está difícil só para a gente, está difícil para quem ajuda também”, afirma Jaqueline.

O caso dela é extremo, mas o avanço do endividamento e da inadimplência das famílias brasileiras é uma realidade do país como um todo.

Uma pessoa é considerada apenas endividada quando tem um compromisso financeiro, mas paga em dia. Ela se torna inadimplente quando não paga a dívida no prazo.


‘Os gastos com água e luz viraram uma bola de neve’, diz Jaqueline Alves Foto: Arquivo Pessoal / BBC News Brasil

Tanto o percentual de famílias endividadas quanto o de inadimplentes vêm batendo recordes desde o ano passado e estão em seu maior patamar em 12 anos.

E a tendência é que a inadimplência suba ainda mais em 2022 por causa do aumento dos juros e do fim de medidas emergenciais criadas na pandemia para ajudar os endividados.

A guerra na Ucrânia deve agravar esse cenário, ao provocar aumento de inflação, o que reduz a renda familiar disponível para honrar compromissos financeiros.

Ao fim de fevereiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, informou que o governo estuda liberar recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para ajudar as famílias endividadas, mas não deu uma data.

Endividamento recorde

O nível de endividamento médio das famílias brasileiras ao longo 2021 chegou a 70,9%, o maior valor até então, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC),

O patamar foi de 76,3% em dezembro, um recorde histórico. Em fevereiro desse ano, o recorde foi novamente quebrado: 76,6%.

“O endividamento foi acelerando ao longo do ano passado”, diz Izis Ferreira, economista da CNC. “Nunca tínhamos tido na série histórica — que começa em 2010 — um ano em que o endividamento cresceu tão rápido.”

Segundo ela, as famílias recorreram ao crédito por motivos diferentes conforme a renda.

“Para as de menor renda, de até dez salários mínimos mensais, o avanço muito rápido da inflação deteriorou o orçamento dessas famílias”, observa Izis.

Ela destaca que, na alta de 10% da inflação em 2021, pesaram muito itens que têm forte impacto na renda das famílias, como gasolina (com alta de preço de 47%), energia elétrica (21%), alimentos (8%) e medicamentos (6%).

Enquanto isso, a renda domiciliar dos brasileiros caiu 10,7% no quarto trimestre de 2021 na comparação anual, o menor patamar da série histórica, iniciada em 2012.

“Isso fez com que essas famílias precisassem usar mais o cartão de crédito, cheque especial e recorrer aos carnês de loja para manterem seu nível de consumo”, explica a especialista.

Já para as famílias mais ricas, com renda mensal acima de dez salários mínimos, o primeiro fator do aumento do endividamento foram os juros muito baixos no início de 2021.

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Revisão do PIS 2022 poderá incluir até 1,9 milhão de trabalhadores

O governo poderá incluir até 1,9 milhão de trabalhadores no pagamento do abono do PIS/Pasep 2022. Segundo a Dataprev, empresa de tecnologia responsável pelo processamento de dados do abono, a revisão nos cadastros está sendo feita porque foram identificadas inconsistências em informações enviadas pelas empresas na Rais (Relação Anual de Informações Sociais).
 
A consulta para saber se o trabalhador foi incluído no novo lote do PIS está prevista para ser liberada a partir do dia 16 de março, no aplicativo “Carteira de Trabalho Digital” e pela plataforma de serviços do trabalho no portal Gov.br. O benefício, de até R$ 1.212, já está sendo pago para trabalhadores que não tiveram falhas em seu cadastro. Veja abaixo o calendário.

Ao fazer o cruzamento de dados dos cadastros dos trabalhadores, a Dataprev identificou divergências entre as informações declaradas no primeiro vínculo da Rais e as demais bases oficiais de registros trabalhistas. Agora, com a revisão dos cadastros, a empresa informou que amplia o cruzamento de dados para confirmar a data correta de vínculo do trabalhador.

Pode receber o abono salarial 2022 quem trabalhou com carteira assinada por no mínimo 30 dias, consecutivos ou não, em 2020. Também é preciso estar cadastrado no programa PIS ou no Cnis há pelo menos cinco anos –ou seja, o primeiro emprego com carteira assinada deve ter ocorrido em 2015 ou antes, dentre outras exigências.
 
Essa é a primeira vez que os registros do eSocial são utilizados para a concessão do abono salarial. Segundo a Dataprev, de 55 milhões de CPFs que tiveram algum registro na Rais ou no eSocial em 2020, foi concluído o processamento de 96,5%, com os seguintes resultados: 22,7 milhões elegíveis a receber o abono salarial; 30,4 milhões inelegíveis; e 1,9 milhão com necessidade de processamento adicional (3,5% de cadastros).

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