Botijão pode passar de R$ 100 com disparada do preço internacional do gás

A escalada da cotação internacional do propano, matéria-prima para o gás de cozinha, joga pressão sobre os preços do botijão, que já se aproximam dos R$ 100, em média, no país. Em alguns locais mais distantes, esse valor até já é praticado. Apesar desse aumento pesar no bolso do consumidor, o mercado vê grande defasagem dos preços internos e espera novo reajuste em breve.
 

Impulsionada pela demanda chinesa por matérias-primas petroquímicas, a cotação do propano na região do Golfo do México, nos Estados Unidos, subiu quase 15% em um mês. Em 2021, o valor do produto tem alta acumulada de 96%.
 

Os preços desse combustível costumam subir durante o inverno no hemisfério norte, quando a demanda por aquecimento cresce.
 

“Este ano, contudo, os preços subiram durante os meses de verão, quando os estoques normalmente são recompostos, devido à alta demanda internacional e à menor oferta global”, diz o Departamento de Energia dos Estados Unidos.
 

O movimento, diz a agência de informações do departamento, é global. O desequilíbrio entre a crescente demanda e a reduzida produção, afirma, levou os preços na Ásia e na Europa a mais do que dobrarem no período de um ano.
 

Assim, a tendência é que as elevadas cotações se mantenham pelos próximos meses, com possíveis impactos para o consumidor brasileiro, que já vem sofrendo com a escalada interna em meio ao um cenário de elevado desemprego.
 

A Petrobras não reajusta o preço do gás de cozinha desde o início de julho, quando promoveu aumento de 6%, e vem operando abaixo da paridade de importação calculada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) há três semanas consecutivas.
 

Na semana passada, seu preço de venda em Santos, um dos dois pontos de importação do produto no país, estava 7% abaixo do valor considerado adequado pelo órgão regulador. Empresas do setor, porém, falam que a diferença é ainda maior, considerando que a estatal tem ganhos de eficiência nas importações.
 

A Petrobras vem repetindo que mantém a política de alinhamento às cotações internacionais, mas “busca evitar o repasse imediato para os preços internos da volatilidade externa causada por eventos conjunturais”.
 

A estatal alega também que o conceito de paridade de importação varia de acordo com a estrutura e a eficiência comercial de uma empresa. Durante parte do ano, segundo os dados da ANP, a Petrobras praticou preços do gás acima da paridade de importação.
 

Na semana passada, a companhia foi alvo de críticas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do presidente da Câmara, Arthur Lira (DEM-AL) por mexer nos preços com muita frequência. Lira chegou a sugerir que a empresa deveria “dividir com o povo brasileiro o pouco da riqueza”.
 

Embora a Petrobras não tenha mexido no preço do gás de cozinha desde julho, o produto continua em alta na revenda. Na semana passada, o botijão bateu R$ 98,33, alta de 1,5% em relação ao praticado na semana anterior e de 5% em um mês.
 

Apenas em 2021, o o preço médio do botijão de 13 quilos subiu 30%. No ano, a Petrobras aumentou seu preço de refinaria em 38%, acompanhando a recuperação do petróleo e a desvalorização cambial.
 

O cenário vem levando famílias de baixa renda a optar por lenha ou carvão para cozinhar, o que gerou no Congresso um esforço para aprovar um subsídio para a compra do combustível.
 

Na semana passada, o deputado federal Christino Áureo (PP-RJ) concluiu relatório sobre projeto de lei que cria o programa Gás Social, que garantiria metade do valor do botijão a inscritos nos programas sociais do governo com recursos dos royalties do petróleo e da Cide (contribuição cobrada sobre a venda de combustíveis).

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