Dois anos após início da pandemia, Bahia segue com redução no número de transplantes

Cerca de dois anos depois do início da pandemia de Covid-19, a Bahia segue apresentando números reduzidos de transplantes de órgãos. Quase todos os procedimentos passaram por quedas de 2019 para 2021, e a fila de espera para quem precisa receber órgãos aumentou consideravelmente.

Um levantamento feito pelo Bahia Notícias, a partir de dados disponibilizados pela Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), mostra que, atualmente, 1.244 pessoas estão esperando por um rim no estado. Esse número era de 913 em 2019. Na fila da córnea, há 943 indivíduos, ante 554 em 2019, enquanto 26 pessoas esperam por um fígado, contra 9 antes da pandemia. 

“As doações sofreram impacto muito forte com a pandemia, pois o número de doadores com contra indicação cresceu. O número de negativa familiar [quando a doação após o óbito não é autorizada pela família] também se elevou nestes últimos anos. Esses motivos se juntam principalmente ao distanciamento ocasionado pela necessidade do isolamento social, que gera uma restrição de visitas, dificultando a formação de vínculos entre as famílias e os profissionais que atuam no processo”, afirmou América Carolina Brandão de Melo, coordenadora da Central de Transplantes da Bahia. 

O procedimento mais afetado pela pandemia foi o transplante de córnea. O número de cirurgias caiu de 743, em 2019, para 281, em 2020. Em 2021, houve uma ligeira recuperação, com 485 registros. 

“Por determinação do Ministério da Saúde, nos 7 primeiros meses da pandemia foram suspensas as doações de córneas. Isso gerou uma demanda reprimida, elevando muito o tempo de espera na lista, que hoje está em média de 13 meses. Mesmo depois da retomada, as doações continuam diminutas, pois temos mais restrições para validação dos doadores”, destaca a coordenadora. 

Os transplantes de rim seguiram caminho similar. Em 2019, foram 287 procedimentos realizados a partir de doadores-cadáveres – que doam após a morte -, contra 231 em 2020 e 248 em 2021. Já entre doadores vivos, foram 19 transplantes em 2019, nove em 2020 e 16 em 2021. 

A espera por um rim costuma ser longa. Em 2020, o Bahia Notícias divulgou o caso de Maria Damiano, que estava há sete anos aguardando pelo órgão (lembre aqui). Há cerca de um ano, ela faleceu. Segundo a família, a mulher sofreu um derrame cerebral após sentir fortes dores nos rins. 

Aqueles que possuem problemas no funcionamento do rim precisam se submeter à hemodiálise, que é um tratamento para remover os líquidos e substâncias tóxicas do corpo, realizando assim a função do órgão. O procedimento diminui a imunidade do organismo. 

ESPERANÇA DE MELHORA 

Apesar da queda durante a pandemia, a Bahia foi um dos poucos estados que manteve o programa de doações de órgãos ativo. “[O estado] Não interrompeu nenhum programa de transplante desde o início da pandemia. Nossa taxa de negativa familiar voltou a reduzir, porém ainda é considerada elevada (em torno de 60%)”, afirmou América. 

OUTROS ÓRGÃOS 

O transplante de pele teve um aumento de 50% em comparação aos anos de 2019 e 2020, porém ainda é o órgão menos doado da lista. De acordo com América, a demanda por transplante de pele com enxerto cadáver é baixa no estado, “mas todas solicitações que chegam são atendidas”.

Os transplantes de medula, tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células do sangue, caíram quase pela metade nos últimos três anos. Em 2019, a Bahia realizou 80 transplantes, em 2020 o número de pessoas que foram contempladas com a cirurgia desceu para 38, já em 2021, apenas 42 transplantes foram feitos.

Quanto ao número de doações de múltiplos órgãos, o ano de 2021 também apresentou o índice mais baixo dos últimos três anos. Em 2019 foram 158 doadores, enquanto em 2020 apenas 129 passaram pelo procedimento, seguido de 2021, onde 123 receberam mais de um órgão. 

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