A quantidade de pessoas em todo o mundo que sofrem com lombalgia, também conhecida como dor na lombar, pode chegar a 843 milhões em 2050. A estimativa, se realmente for alcançada nos próximos anos, representa um salto de mais de um terço dos casos registrados em 2020, quando a quantidade de afetados pela complicação era de 619 milhões.
A projeção, feita em artigo publicado nesta segunda (22) na revista The Lancet Rheumatology, indica que é necessário ter maior atenção à lombalgia, afirma Wang Yuan Pang, médico assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP e colaborador do grupo de pesquisa que conduziu o estudo.
“[O aumento projetado] é bastante e significa que os governos e os profissionais de saúde precisam concentrar esforços nesse tipo de problema”, afirmou.
O grupo de autores utilizaram dados do Global Burden of Disease (GBD), um programa formado por cientistas de todo o mundo com informações de mortalidade e incapacidade relacionadas a doenças. Além do GBD, outras fontes compuseram a pesquisa: artigos já publicados e relatórios governamentais são exemplos.
Além de projetarem o aumento de casos de dor na lombar por meio de ferramentas estatísticas, o artigo chama a atenção para o fato de que a complicação é a principal causadora de anos vividos com incapacidade. O conceito diz respeito ao período em que alguém vive com uma deficiência que causa um quadro abaixo do ideal de um indivíduo saudável.
A seriedade e o impacto da dor causada pela lombalgia são reiteradas por Wang. “Não é uma coisa assim ‘olha, estou com dor e vou levando, vou tentar trabalhar’. A pessoa não consegue nem sair de casa.”
Os custos de tratamento também são altos. Wang explica que, além de parar de trabalhar, a pessoa com lombalgia necessita arcar com gastos, como analgésicos, fisioterapias e médicos. Às vezes, o indivíduo debilitado ainda demanda que alguém pare de trabalhar para ajudá-lo.
O impacto também é econômico. No Brasil, por exemplo, a estimativa apontadas no estudo é que, a cada ano, cem dias de trabalho são perdidos por habitante em razão da dor na lombar.
Mesmo com o número alto de dias perdidos no Brasil, a América Latina, região onde o país se encontra, não tem as maiores taxas de lombalgia e nem terá o crescimento mais vertiginoso até 2050. Serão a Ásia e a África que podem ter os maiores aumentos nos próximos anos segundo a projeção.
“Embora o Brasil não tenha as maiores taxas de lombalgia, o impacto dela, de cem dias, é quase um terço do ano em que a pessoa fica sem trabalhar”, aponta Wang.
CAUSAS
O aparecimento da dor intensa na lombar envolve vários fatores. No artigo, os autores escrevem que o crescimento da população é um aspecto primordial que explica a projeção para 2050. “Exceto em algumas regiões onde o envelhecimento populacional parece ser o principal motivo para o aumento do número de casos”, completam.