Boas histórias

Uma seleção para incentivá-lo (a) a ler, ainda que em pequenas doses, ao longo do ano que está começando

Vocês já sabem, mesmo que resumidamente, como foi o meu processo de me tornar uma leitora, e confesso que acaba sendo uma tarefa fácil listar aqui algumas dicas para quem pretende inserir o hábito da leitura na sua rotina em 2022, ou, até mesmo, para quem já é um leitor ou leitora, quem sabe se interessar por algumas dessas dicas.

Os livros sempre funcionaram como uma válvula de escape pra mim: me salvaram da timidez da adolescência, de como me sentia deslocada no ensino médio e da pouca vontade que eu sentia de sair. E, assim, os livros eram os meus companheiros das madrugadas.

Lembro quando era criança e fiquei encantada com o Jogo do Contente que o pai de Pollyanna tinha ensinado para que ela pudesse perceber sempre o lado positivo das coisas; ou de como chorei com a história de amizade entre Amir e Hassan no Caçador de Pipas, e fiquei nauseada quando Mariam de 15 anos e Laila de 14, meninas ainda, precisaram casar com um homem de 45 anos, no livro A cidade do sol. Mas também suspirei por Bella e Edward, na saga Crepúsculo; e queria desvendar os mistérios junto com Robert Langdon nos livros de Dan Brown. E, tardiamente, mesmo já conhecendo a história através dos filmes, quis estudar em Hogwarts junto com Harry, Hermione e Rony, quando eu já contava com 25 anos de idade. Mas, de também, ter abandonado Christian Grey e Anastasia Steele, nas 100 primeiras páginas de 50 Tons de Cinza.

Assim, o objetivo dos livros foi cumprido: não são feitos para ficarem parados na estante; eles precisam ser lidos, sentidos, vividos e, até mesmo, abandonados. Porque, assim como os personagens, a gente viaja, ama, sofre, chora, ri, vibra e, também, se entendia. A gente aprende sobre nós mesmos, sobre o outro, sobre o mundo. Literatura é refúgio, mas também é lar.

Pensando nisso, selecionei alguns livros. Sou muito eclética, então tem título para todos os gostos. São apenas sugestões para você se inspirar e montar a sua lista, tirando o que não te agrada e acrescentando títulos a seu gosto. Isso porque, como são minhas as escolhas, recorro a escritora Virginia Woolf no ensaio Como Ler um Livro?: “O único conselho sobre leitura que uma pessoa pode dar a outra é não aceitar conselho algum, seguir os próprios instintos, usar o próprio bom senso e tirar suas próprias conclusões. É o nosso gosto, o nervo sensorial que através de nós transmite choques, que mais nos ilumina; é pelo sentir que aprendemos”.

  • Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez

Em Cem anos de solidão, um dos maiores clássicos da literatura, o prestigiado autor narra a incrível e triste história dos Buendía – a estirpe de solitários para a qual não será dada “uma segunda oportunidade sobre a terra” e apresenta o maravilhoso universo da fictícia Macondo, onde se passa o romance. É lá que acompanhamos diversas gerações dessa família, assim como a ascensão e a queda do vilarejo.  

  • Política é para todos, Gabriela Prioli

O que é uma democracia e para que serve uma constituição? Quais são as atribuições de cada uma das três esferas de poder e como garantir que elas se mantenham em harmonia? Como funcionam as eleições e qual a importância das fake news nesse cenário?
Em Política é para todos, a advogada e apresentadora Gabriela Prioli responde a essas e outras questões imprescindíveis para a compreensão do funcionamento da política ― sobretudo a brasileira ―, mas que muitas pessoas têm receio ou vergonha de perguntar. Com a linguagem descomplicada que fez dela uma das personalidades mais populares do país, a autora mostra como cada um de nós pode se engajar para construir a sociedade que queremos, debatendo os assuntos relevantes com opiniões próprias e argumentos racionais.

  • A Revolução dos Bichos, George Orwell

Cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, os animais da Ganja do Solar rebelam-se contra seus donos e tomam posse da fazenda, com o objetivo de instituir um sistema cooperativo e igualitário, sob o slogan “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”. Mas não demora muito para que alguns bichos – em particular os mais inteligentes, os porcos – voltem a usufruir de privilégios, reinstituindo aos poucos um regime de opressão, agora inspirado no lema “Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros”. A história da insurreição libertária dos animais é reescrita de modo a justificar a nova tirania, e os dissidentes desaparecem ou são silenciados à força.

  • Flores para Algernon, Daniel Keyes

Com excesso de erros no início do romance, os relatos de Charlie revelam sua condição limitada, consequência de uma grave deficiência intelectual, que ao menos o mantém protegido dentro de um “mundo” particular – indiferente às gozações dos colegas de trabalho e intocado por tragédias familiares. Porém, ao participar de uma cirurgia revolucionária que aumenta o seu QI, ele não apenas se torna mais inteligente que os próprios médicos que o operaram, como também vira testemunha de uma nova realidade: ácida, crua e problemática. Se o conhecimento é uma benção, Daniel Keyes constrói um personagem complexo e intrigante, que questiona essa sorte e reflete sobre suas relações sociais e a própria existência. E tudo isso ao lado de Algernon, seu rato de estimação e a primeira cobaia bem-sucedida no processo cirúrgico.

  • Cidadã de Segunda Classe, Buchi Emecheta

Na Nigéria dos anos 60, Adah precisa lutar contra todo tipo de opressão cultural que recai sobre as mulheres. Nesse cenário, a estratégia para conquistar uma vida mais independente para si e seus filhos é a imigração para Londres. O que ela não esperava era encontrar, em um país visto por muitos nigerianos como uma espécie de terra prometida, novos obstáculos tão desafiadores quanto os da terra natal. Além do racismo e da xenofobia que Adah até então não sabia existir, ela se depara com uma recepção nada acolhedora de seus próprios compatriotas, enfrenta a dominação do marido e a violência doméstica e aprende que, dos cidadãos de segunda classe, espera-se apenas submissão.

  • A menina quebrada, Eliane Brum

Nas colunas da repórter Eliane Brum, a vida pode ser tudo, menos rasa. A cada segunda-feira, os leitores encontram um olhar surpreendente sobre o Brasil, sobre o mundo, sobre a vida – a de dentro e a de fora. Eliane pode escrever sobre a Amazônia profunda, como alguém que cobre a floresta desde os anos 90; ou pode provocar pais e filhos, com uma observação aguda das relações familiares marcadas pelo consumo; ou pode refletir sobre a ditadura da felicidade, que tanta infelicidade nos causa. O que não muda são a profundidade e a seriedade com que ela trata cada tema. O que não é surpresa é seu enorme talento para enxergar muito além do óbvio. Essa combinação rara transformou sua coluna de opinião em um fenômeno de audiência. Este livro reúne seus melhores textos e dá ao leitor uma fotografia do nosso tempo, visto pelo olhar de uma repórter que observa as ruas do mundo disposta a ver. E que escreve para desacomodar o olhar de quem a lê.

  • Torto Arado, Itamar Vieira Júnior

Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas ― a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção.

  • Sapiens: Uma breve história da humanidade, Yuval Noah Harari

O planeta Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos. Numa fração ínfima desse tempo, uma espécie entre incontáveis outras o dominou: nós, humanos. Somos os animais mais evoluídos e mais destrutivos que jamais viveram.
Sapiens é a obra-prima de Yuval Noah Harari e o consagrou como um dos pensadores mais brilhantes da atualidade. Num feito surpreendente, que já fez deste livro um clássico contemporâneo, o historiador israelense aplica uma fascinante narrativa histórica a todas as instâncias do percurso humano sobre a Terra. Da Idade da Pedra ao Vale do Silício, temos aqui uma visão ampla e crítica da jornada em que deixamos de ser meros símios para nos tornarmos os governantes do mundo.
Harari se vale de uma abordagem multidisciplinar que preenche as lacunas entre história, biologia, filosofia e economia, e, com uma perspectiva macro e micro, analisa não apenas os grandes acontecimentos, mas também as mudanças mais sutis notadas pelos indivíduos.

*Ana Raíra Valverde é advogada e amante da leitura. Ela é a primeira colunista do T.A.
*Este texto é de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha do site Teofilândia Acontece

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