O conselheiro da Petrobras Francisco Petros, eleito pelos acionistas privados da estatal, enviou nesta sexta-feira (17) uma carta a ministros de Jair Bolsonaro (PL) e à diretoria da empresa propondo uma trégua de 45 dias nos reajustes dos preços dos combustíveis.
Uma das condições fundamentais para que o acordo ocorra, no entanto, dependeria do compromisso do governo federal em manter a atual governança da companhia.
Petros afirma que as mudanças recentes no comando da Petrobras representam “um fator de enorme instabilidade para a gestão da empresa e para a própria solução do tema dos aumentos dos preços de combustíveis”.
O documento foi disparado com cópia para outros conselheiros horas após a Petrobras anunciar reajustes de 5,2% no preço da gasolina e de 14,2% no preço do diesel, afirmando que o mercado de petróleo passou por mudança estrutural e que é necessário buscar convergência com os preços internacionais.
Na carta enviada aos ministros de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, e da Casa Civil, Ciro Nogueira, o conselheiro diz que o ambiente turbulento envolvendo a empresa se deve, para além dos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia, à comunicação do governo e às medidas adotadas em relação à Petrobras.
A segunda condição sugerida para a trégua está na formação de “um grupo de trabalho com todos os agentes do mercado de combustíveis e membros do governo” para formular estratégias que “permitam o funcionamento do mercado em bases sustentáveis para o país e as empresas”.
O colegiado se comprometeria a apresentar resultados no prazo de 45 dias —e, durante esse período, os preços ficariam congelados.
“Acreditamos que o que aqui se propõe pode restabelecer o ambiente saudável de relacionamento institucional da Petrobras com seu principal acionista, bem como, restabelece a normalidade da gestão na busca de soluções úteis ao Brasil, suas instituições e a sociedade, as empresas e todos os stakeholders da Petrobras”, escreve.
Segundo Petros, a iniciativa de reduzir a carga tributária sobre os combustíveis é louvável, mas “infelizmente não soluciona os efeitos da elevação dos preços do petróleo sobre a cadeia produtiva e de negócios da Petrobras”.
“Em vista desta difícil situação, estamos verificando que há uma notável incompreensão sobre a necessidade concreta de a Petrobras praticar preços que permitam a manutenção do abastecimento em um ambiente de higidez do funcionamento do mercado, a rentabilidade de seus ativos, o pagamento de tributos e a obtenção de seus resultados”, afirma o conselheiro.
Petros ainda destaca que a situação do país é desafiadora e seus impactos sobre os preços dos combustíveis, enormes, principalmente para a parcela mais vulnerável da população. “Espalha-se pela economia perigosa escalada da inflação, cujos efeitos não são passíveis de ser cessados em prazo relativamente curto”, afirma.
“Acreditamos que o que aqui se propõe pode restabelecer o ambiente saudável de relacionamento institucional da Petrobras com seu principal acionista, bem como, restabelece a normalidade da gestão na busca de soluções úteis ao Brasil”, diz, finalizando o documento.
Após o anúncio dos aumentos, as ações da Petrobras caíam cerca de 9,17% por volta das 14h desta sexta, empurrando a Bolsa de Valores para o fundo e piorando o fechamento de uma semana já negativa para o mercado de ações diante da alta histórica dos juros nos Estados Unidos.
Críticas de políticos ao aumento nos preços dos combustíveis aplicado pela companhia pesam no desempenho dos papéis da empresa nesta sessão.
Nesta sexta, o presidente Jair Bolsonaro chamou o novo reajuste da Petrobras de “traição com o povo brasileiro” e afirmou que está articulando com a cúpula da Câmara dos Deputados a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a direção da empresa.
O atual presidente da estatal, José Mauro Coelho, foi indicado para o cargo pelo governo para suceder Joaquim Silva e Luna —demitido por Bolsonaro por reajustar os preços da empresa.
Após 99 dias sem aumentos, o preço médio da gasolina nas refinarias da estatal passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro. Já o preço do diesel passará de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro. O último ajuste ocorreu há 39 dias.
Na quinta (16), o conselho de administração da companhia rejeitou pedido do governo para evitar reajustes, defendendo que a definição de preços é atribuição da diretoria executiva. A reunião havia sido convocada a pedido do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
A solicitação foi a última cartada do governo para tentar evitar o aumento em meio ao esforço para aprovar um pacote de medidas para tentar reduzir os preços, que, segundo o presidente Bolsonaro, poderia baixar os preços da gasolina e do diesel em R$ 2 e R$ 1 por litro, respectivamente.
Bolsonaro também afirmou nesta sexta que a Petrobras “pode mergulhar o Brasil num caos”. “Seu presidente, diretores e conselheiros bem sabem o que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo.”
Já o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), afirmou à Folha que “vai para o pau” para “rever tudo de preços” de combustíveis. Ele também defendeu a demissão do presidente da Petrobras e disse que vai trabalhar para taxar o lucro da petroleira.
“Eu liguei para Zé Mauro [presidente da Petrobras] ontem [quinta, 16]. Pedi para ele não dar aumento, [disse]: ‘você está trabalhando contra, o que se espera da Petrobras é outra coisa’; e falei que ia fazer um trabalho para demitir ele, vou propor com o governo para taxar o lucro da Petrobras. Ele [respondeu]: ‘não é bem assim, é o conselho [de administração], não estou postergando a minha saída'”, disse Lira.