Bahia tem 15 casos de superfungo; Covid-19 aumenta chances de infecção

Com 15 casos contabilizados do superfungo “Candida auris” na Bahia desde o ano passado, a Secretaria da Saúde (Sesab) “permanece em alerta”. Entre as características do microrganismo está a resistência a medicamentos e a possibilidade de causar graves infecções hospitalares.

O primeiro caso veio à tona em dezembro de 2020, e foi identificado em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) de um hospital particular de Salvador. Na ocasião uma notificação foi feita à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que em seguida fez um alerta (leia mais aqui). No mês seguinte, em janeiro de 2021, a agência informou que caracterizava a situação como um surto (entenda melhor aqui). O órgão fez alertas que a Candida auris é um fungo emergente que representa uma “grave ameaça à saúde global”.

Desses 15 casos identificados na Bahia, a Sesab informa que se tratam de 12 de 2020, sendo três infecções e 9 de colonização. Em 2021 foram três casos: um de infecção e dois de colonização. Para entender melhor a diferença entre as duas classificações, a reportagem conversou com o infectologista Igor Brandão e com o biomédico e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Jailton Azevedo.   

Os especialistas explicam que os seres humanos e os animais podem ter contato e ser colonizados por diversos microrganismos sem que necessariamente sofram algum tipo de mal ou dano causado por eles. Nesse sentido, a pele e as mãos, por exemplo, podem tocar e ter a presença de vírus, bactérias e fungos, sem que eles causem doenças.

Por outra lado, a infecção diz respeito a um mal causado por aquele microrganismo. “Porque a gente pode ter aquele vírus, bactéria ou fungo e ele não estar fazendo nenhum dano. Mas quando ele invade o corpo da pessoa e causa algum dano, essa condição é caracterizada como infecção”, explicou Igor Brandão.

A nomenclatura não se estende às superfícies, acrescenta o infectologista. Objetos, móveis e utensílios podem conter vírus, bactérias e fungos, mas não se fala em colonização e infecção nesses casos. “Uma superfície não vai estar doente. O meu celular, a mesa, ou um corrimão podem conter fungos, vírus ou bactérias, e se alguém pegar com a mão ou qualquer outra superfície do corpo pode colonizar, sujar nossa parte do corpo, e se ele invadir tecido e fizer algum sintoma aquilo pode ser considerado infecção”, completou o médico. 

FUNGOS E COVID-19

Brandão sugere que a infecção pelo Candida auris pode ser inclusive uma complicação da infecção por Covid-19. Segundo o médico, pacientes submetidos a grandes quantidades de medicamentos com corticoide, que tem potente ação anti-inflamatória, acabam tendo a imunidade diminuída e, portanto, têm maiores chances de infecções por bactérias e fungos. Ele ainda ressalta que muito tem se falado da Candida auris, mas que existem mais de 100 tipos de fungos da espécie Candida, tão graves e até mais comuns do que a auris.

O biomédico Jailton Azevedo sugere uma correlação nos casos de Covid-19 e infecções fúngicas com base na própria fisiopatologia da infecção pelo Sars-CoV-2. “Na qual a resposta inflamatória e a tempestade de citocinas podem proporcionar às Candidas da mucosa intestinal uma maior possibilidade de invasão e infecções sistêmicas oportunistas”, explicou.

Outro fato que aumenta as chances de um paciente grave com Covid-19 acabar com uma infecção fúngica é o longo período de internação somado aos aparatos médicos necessários no tratamento, a exemplo de drenos, tubos e cateteres.  

“Eles têm muito fatores para ter Candida, auris e não auris, porque esses pacientes estão na UTI, intubados, com cateter central, algumas vezes utilizando diálises, nutrição venosa, e isso é um prato cheio para identificar um germe atípico no Brasil e no mundo. O médico sabe que o paciente pode ter risco de desenvolver uma candidemia. Mas para o paciente fora do hospital, ter uma infecção por um fungo desse é praticamente impossível”, frisou Igor Brandão.

‘KIT COVID’

Outro alerta feito pelo infectologista Igor Brandão é para as consequências do uso inapropriado de terapias. Já que esses pacientes com Covid-19 acabam tendo aumentadas as chances de infecções por fungo, a auto medicação e a adesão a remédios sem comprovação científica, ou de outros comprovadamente ineficazes, de forma preventiva para a infecção contra o coronavírus podem potencializar ainda mais essas chances.

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