Bahia é o estado com maior número de homicídios de crianças, adolescentes e jovens

No dia 30 de janeiro de 2022, Bruno Lima dos Santos, de 26 anos, foi morto a tiros na porta de casa, na Estrada do Curralinho, em Salvador. Da janela, a mãe dele testemunhou a morte do filho. Bruno foi um dos 4.082 jovens, adolescentes ou crianças assassinados na Bahia naquele ano, de acordo com o Atlas da Violência 2024, divulgado nesta terça-feira (18). Em todo o país, o estado lidera em mortes de pessoas nessa faixa etária, que vai dos cinco aos 29 anos.

De acordo com o levantamento, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o número de assassinatos de jovens (pessoas entre 15 e 29 anos) naquele ano foi 4.030, o maior do país. Isso significa uma taxa de homicídios de 117,7 a cada 100 mil habitantes. A maior parte dos jovens mortos eram homens. A pesquisa aponta ainda que o índice registrado em 2022 foi 23,5% que o de 2012.

Desses jovens, 993 dos homicídios registrados foram de adolescentes (15 a 19 anos). Para se ter uma ideia, no Rio de Janeiro foram 421, 57,6% a menos. Na cruel estatística da Bahia, está Bruno Vagner Barbosa, de 16 anos, que foi morto em Ibicaraí, no sul do estado, após reagir a um assalto. Ele teria se recusado a passar o celular para uma dupla de ladrões e foi baleado, em 20 de dezembro de 2022.

Já em relação às crianças de 5 a 14 anos, foram 52 mortes no estado. Um deles foi João Alves de Araújo Neto, de 13 anos, que estava sentado na frente da casa da avó, em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador, quando foi baleado. O caso aconteceu no dia 6 de fevereiro de 2022. 

“A mãe tinha acabado de chamar ele para irem para casa. Nesse momento, passava o rapaz no carro. Dois homens numa moto que vinham logo atrás começaram a atirar. Uma das balas atravessou o vidro do carro e atingiu o pescoço de João Neto”, declarou, na época, o tio do menino, o motorista Diego Nascimento de Oliveira, 40.

Antônio Jorge Melo, especialista em segurança pública, coordenador do curso de Direito da Estácio e coronel reformado da Polícia Militar da Bahia (PM-BA), explica que o número de mortes de crianças e adolescentes é resultado da conjuntura da segurança pública vivenciada na Bahia atualmente, a partir de um rearranjo territorial e geopolítico das organizações criminosas.

“Inegavelmente, o atual momento de redesenho dessas facções, que é responsável de forma direta e indireta pelo aumento da insegurança, da criminalidade, dos índices de homicídios entre nós, deve ser combatido. Mas não somente pela ação da polícia e do combate direto, como também por ações estatais que mitiguem as causas desse problema que se mostra muito mais complexo, é de ordem social, econômica e cultural”, diz.

De acordo com Luiz Claudio Lourenço, sociólogo, pesquisador de organizações criminosas, professor da Universidade Federal da Bahia e um dos coordenadores do Laboratório dos Estudos sobre Crime e Sociedade (Lassos), a liderança na morte de jovens mostra que há muito o que ser feito para diminuir a vulnerabilidade social, econômica e física de pessoas dessa faixa etária na Bahia.

“Gerar oportunidades de educação qualificada, cultura, emprego, esporte e renda é fundamental. A falta dessas oportunidades e o aumento da vulnerabilidade pode ter como consequência o aumento da vitimização fatal da população jovem”, avalia.

A reportagem procurou as polícias Civil e Militar e a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para pedir posicionamentos sobre os dados divulgados. Em resposta, a PC e a PM recomendaram que a SSP fosse contatada. A pasta, por sua vez, afirmou em nota que a redução das mortes violentas é uma prioridade na Bahia, mas não respondeu diretamente ao questionamento.

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