Há cerca de cinco anos, Mayara Correa, 24, juntou informações de sites, livros, vídeos, sobre cães de assistência emocional e questionou sua psicóloga se o animal poderia ajudar no tratamento de transtorno de ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, transtorno de personalidade borderline e transtorno bipolar com os quais foi diagnosticada.
“Eu só queria melhorar. Por que não mostrar e por que não ver se há possibilidade? Ela conversou comigo e falou ‘eu preciso te analisar antes para ver se você é apta a ter um cão de assistência, talvez seria o caso de mudar a medicação, fazer outro tipo de terapia'”, conta.
Depois de um ano, Correa conseguiu o laudo de seu primeiro cão de serviço, Hagnar. Atualmente, ela cria conteúdo nas redes sociais para falar sobre cães de assistência no perfil “Vida em Matilha” e Sirius é o cão que a auxilia.
“Ele me dá mais autonomia, mais independência, mais força também para seguir com o meu tratamento. Ele me auxilia nas tarefas básicas, como pegar e trazer a minha medicação ou algum outro objeto. Ele faz também a terapia de pressão profunda no meu colo, que é para me auxiliar quando eu tenho taquicardia, quando eu tenho uma respiração mais intensa durante a crise. Ele me alerta, evitando que as crises cheguem em um episódio com risco de me machucar”, diz. “Sou uma pessoa mais feliz e mais estável com ele”.
Ingrid Atayde, médica veterinária, psicóloga e chefe do Setor de Comissões Técnicas do CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária), explica que existem tipos diferentes de animais que podem ajudar em condições de saúde: os de serviço, como, por exemplo, os cães-guias; os de assistência emocional, que podem ajudar pessoas em crises de ansiedade e depressão; e os de terapia, que visitam hospitais, ajudam em fisioterapias, dentre outros.
“Os animais de serviço são treinados individualmente para fazer alguma tarefa. Por exemplo, o cão-guia é treinado para funcionar como uma extensão do olhar do deficiente visual. O cão ouvinte é treinado para reconhecer determinados sons e avisar aquela pessoa que não escutou os sons. Tem o cão psiquiátrico, por exemplo, que é treinado para perceber uma crise de ansiedade”, explica. Outros exemplos, que incluem animais de serviço, são aqueles cães treinados para sentir o cheiro da pessoa e detectar se o índice glicêmico está baixo, por exemplo, ou se aquela pessoa vai entrar em convulsão, diz a médica veterinária.
No TikTok, uma família americana mostra a rotina de um cão de serviço treinado para detectar alterações na glicemia de sua filha que tem diabetes. Em um dos vídeos, por exemplo, o cachorro avisa os pais da menina que sua glicose subiu muito enquanto ela dormia.
A médica veterinária explica que, no caso dos cães de serviço, não é qualquer cachorro que pode ser treinado. “Algumas raças são mais prováveis, por exemplo, labrador, golden retriever, mas dentro dessas raças eu tenho linhagens. Se eu pegar uma ninhada qualquer de golden retriever, por exemplo, possivelmente, no máximo 30% desses animais vão ter aptidão para cão-guia. Se eu pegar uma linhagem selecionada de cães-guias, esse número sobe para uns 70%”, afirma.
Já o cão de assistência emocional, segundo Patrícia Muñoz, doutora em psicologia experimental pelo Instituto de Psicologia da USP e diretora clínica do Centro de Psicologia, Pesquisa e ABA em Houston (Texas) ajuda com apoio psicológico. “Só o fato de animal estar perto de você, você já tem uma mudança de cortisol no sangue. A pessoa se sente mais calma, mais tranquila. Por exemplo, uma pessoa que tem depressão e tem um animal de suporte precisa cuidar do animal. O animal de suporte está ali para gerar conforto”.
A psicóloga relembra que, para ter um animal de suporte, a pessoa precisa estar em tratamento e o animal precisa fazer parte do plano individual de tratamento daquela pessoa.
Em relação aos animais de terapia, Atayde explica que eles são treinados para ajudar em trabalhos, como visitas em hospitais, consultórios de psicologia, de fisioterapia. “Por exemplo, uma criança, um idoso, pode não ter interesse em fazer o exercício de rodar o braço na fisioterapia, mas jogar a bolinha para o cachorro ele quer, escovar um animal ele quer”.
Foto: Jose Ferreira Neto